sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Bêbados no Centro da Cidade

Monotonia disponível nos seres, nos corpos, na vida... Sensação de vazio,
mesmice... Ócio, calmaria, maresia, morgação.
Sem mais opções... Centro da Cidade, vinho barato, cigarro, gente jovem reunida, foi o que restou para se buscar.
Tédio, Tédio...
- Vamos acabar com ele, eu quero beber!
Um copo de vinho, dois, três, quatro... E tudo já começa a embaçar. Risadas altas, verdades que machucam, mas momentos que agora, não poderiam mais serem deixados de lado como aquelas caixas de papelão onde colocamos folhas velhas que ficam esquecidas e amareladas. Aquilo tudo proporcionava adrenalina, e a calmaria já havia passado. Agora existiam bêbados no centro da cidade, jovens bêbados... Com cigarros dentre os dedos, com o olhar fundo e torto, com o andar não mais linear, com verdades saindo de seus lábios, com a mente alcoolizada, com a carne fraca que se entregava as tentações que o momento proporcionava.

[...]

Senhores saindo do oratório, vendo aqueles garotos e garotas tão jovens e já assim, rezavam ainda mais para a purificação de suas almas.
Aquilo era errado, todo mundo sabia... Mas quem nunca foi jovem?

[...]

Alguma coisa falava mais alto ali... Não era mais o tédio que fazia com que eles fizessem aquilo. Eram por eles, pelo momento, por tudo.
Problemas mal resolvidos; Gente que não os entendiam; Responsabilidade batendo; Fim de um ciclo e o início de outro; Ninguém para apoiá-los...
Tudo isso, só os levavam para o que eles faziam agora... Eram manipulados pela bebida como bonecos de cera, ou fantoches.
Eles envelheciam-se ali, fazendo companhia, em uma noite fria e vazia, para o centro da cidade... Bêbados no centro da cidade.
Significava alguma coisa aquilo tudo... É... Significava.
Eles não tinham medo de errar. Eles faziam o certo aos seus olhos. Não ligavam pelo o que pensariam. Eles só não queriam que a mesmice voltasse [...]
- Eu só quero mais álcool, mais um cigarro, e nunca mais olhar pra trás e ver o que eu deixei... Só mais um gole, sim?

Um comentário:

  1. Bêbados do centro da cidade.
    Desde os tempos antigos já se via os beberrões por aí, com sua garrafa na mão e o cigarro entre os lábios.
    Depois pudemos ver toda uma juventude transviada repetindo os mesmos hábitos; e hoje; o que chamamos de juventude do futuro carrega como Karma de outras gerações esses mesmos passos. Acredito que alguém também levará isso adiante.

    Somos jovens, bêbados do centro da cidade. Nos encontramos numa praça vázio ou cheia, mas ali está o gosto de uma tal liberdade. Será mesmo? Ou nos acorrentamos aos vícios que outrora também chamaram de virtudes?

    O fato é que isso sempre existiu e sempre existirá.

    Excelente o texto. Peculiar a quem convive com o poema. Tem que ser assim. O autor de uma história fantástica deve ter experimentado em sua carne aquilo que escreve.

    Paz e luz!

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