sábado, 11 de dezembro de 2010

19 de junho de 1946

1946 foi um ano muito importante para aquela família. Tinham eles, Os Limas, duas filhas, que agora teriam uma irmã. Família pobre, que morava na roça... Bem escondidos, mas felizes por terem suas vidas abençoadas de alguma maneira. Eles não esqueciam que Deus estava com eles.
Nove meses a sua espera, e pronto, ela chega, sem ao menos entender nada. Tornava pessoas felizes, por chorar, por fechar os olhos, por dormir. Era o que chamamos de Dádiva. Mais uma forma de benção estava ali. Aquele momento só proporcionava felicidade e nada poderia mudar aquilo.
Anos e mais anos. Seus lindos cabelos encaracolados e negros tornavam o tom de sua pele ainda mais notável, era realmente linda, com lábios carnudos e interrogativos, ninguém nunca sabia o que ela pensava, só sabiam que aquela menina transformaria a vida de qualquer pessoa que a conhecesse. Virara uma menina responsável, trabalhadora, que não tinha tempo para estudar. Sonhava alto, também sofria por amor. Não vivia nas condições que merecia, mas era feliz. Sabia amar de verdade, sabia observar a simplicidade das coisas, era simplesmente incrível.
Almejava o melhor para a sua família que havia crescido. Corria sempre na frente, não atrás, das coisas que queria. Sofria... Sofria, ninguém entendia o porquê, mas tudo teria que ser assim... Era o destino.
Já sem pai, foi buscar a vida na cidade, juntamente de suas irmãs, sua mãe e seus dois irmãos.
Anos e mais anos novamente se passaram... Era tudo inevitável. Todos constituindo família, mas pra ela, por mais que isso fosse importante, ela tinha tudo o que precisava por ter sua mãe.
Perdeu seu irmão... Metade de sua mãe foi junto, conseqüentemente, metade sua também.
Não dava pra saber o que viria, mas ela vivia, e tentava fazer o melhor que podia.
5 de Dezembro de 2006, o mundo daquela mulher, tão vivida, acabou. Nada mais teria um por que em sua vida, já que ela havia entrado em um buraco. Perdeu sua mãe, perdeu suas forças, perdeu sua esperança, perdeu a vontade para qualquer coisa.
Mas Deus continuou do seu lado, sua fé era inabalável, ela sabia que para tudo havia um propósito, só que viver, ela já não mais sabia fazer.
Entregou-se, entregou sua vida... E, depois de dois anos, se foi. Tudo havia melhorado de novo pra ela. Mas e quem ficou? E quem havia conhecido aquela mulher que mesmo sem saber ler e escrever ajudava como se fosse por ela? O vazio tomou conta dos lugares, do coração das pessoas que sabiam quem ela era.

Talvez um Anjo?

- Sim, porque não?

2 comentários:

  1. Muito bom o conto.
    A gente sente na pele o que essa bela jovem sentiu. O gosto que transformou sua vida, torna-se freqüentemente em nossa boca!

    Pax e Luz!

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