domingo, 12 de dezembro de 2010

Folhas, letras, palavras, e fim.

"Os livros nos dão conselhos que os amigos não se atreveriam a dar-nos."

Verde, céu azul, grama fresca, ar puro... Era isso o que ele buscava, o que João de Cristo buscava. Como sonhava. Vivia em um mundo de contos. Sua paixão era ler. Era diferente de todos. Não se importava com as coisas fúteis da vida. Se ele tivesse um livro, nada mais poderia o abalar.

Diferente de alguns homens, ele não via as mulheres como objeto erótico. Para ele, a mulher, era como um livro, repleto de páginas, que se tratado sem carinho, sem cuidado, podia rasgar e assim, perder alguma das folhas que contavam a melhor parte da história que continha no mesmo.

Buscava o que realmente cabia em seu alcance, mas nem por isso deixava de sonhar.
Simplicidade era seu sobrenome, como ele conseguia enxergar magnitude nas coisas. Não tinha com quem contar, vivia sozinho. As pessoas o chamavam de louco por ele ser tão desligado e por não viver naquele mundo real e sem graça... O chamavam de louco por ele viver no meio das letras, das palavras, das folhas.
Ele tinha seus propósitos, e as únicas coisas que o acompanhavam eram seus livros... Tanto os velhos, quantos novos, ele só não estava completamente só, por isso! E não se importava.

Ele sabia que por mais mal que ele estivesse, ele não estava louco.
Cada conto era como uma de suas vidas... Porque ele sim tinha várias vidas, por ter tantos livros, e saber realmente entender os sentimentos, os sentidos que as palavras proporcionam.
Colecionava sabedoria, era tão inteligente... Sabia que da vida nada levaria, a não ser conhecimento, por isso buscava-o sempre.
Extensão de suas memórias... Seus livros. Não precisava de ninguém, só das suas folhas com palavras.

- E quando você morrer? Ninguém vai saber quem foi você... Você nunca terá uma família que sofrerá por você, pela sua partida.

Infeliz aquele que sempre o atormentava com essas palavras, mas ele sabia o que responder...

- Irei com certeza muito feliz, por ter tido ao longo da minha, meus livros que eram a minha família, que absorviam as minhas lágrimas quando eu chorava em cima deles, que me escutavam em silêncio, mas que sempre, sempre, tinham algo novo pra me mostrar, pra me ensinar... Não preciso que sintam a minha falta para saberem que eu existi. Eu fui muito bem abençoado quando aprendi a reconhecer os livros, e é isso que importa pra mim, os meus livros.

Um comentário:

  1. "O Whisky, melhor amigo do homem é o cachorro engarrafado." (Vinícius de Moraes)

    Se o homem aprendesse a ser só, talvez ele aprendesse a ser ele mesmo, sem se importar com o mundo exterior.

    Necessitamos aprender com a solidão. Ela não é inimiga. Aprendemos apenas a superar nosso eu e nada mais. E com isso, sabemos de fato quem somos.
    Não se pode dar ao outro aquilo que não se tem. E só saberemos o que temos a partir desses esvaziar das pluralidades que vem de fora para dentro!

    Lindo, muito lindo mesmo o texto.

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